Durante
a Idade Média, a Igreja Católica foi objeto de diversos movimentos que se
propunham a reformar suas estruturas, corrigindo abusos do clero e recuperando
a pureza original do Cristianismo. Entretanto, todos os autores dessas reformas
- papas, bispos, fundadores de ordens religiosas - sempre foram pessoas
pertencentes aos quadros da Igreja e incapazes de desligar-se dessa
instituição, por mais que dela discordassem. Enfim, queriam arrumar a casa e
não construir outra.
No
final da Idade Média, entretanto, as insatisfações religiosas contra a Igreja
acumulam-se de tal maneira que desembocaram num movimento de ruptura: a Reforma
do século XVI. As graves críticas apresentadas contra a Igreja já não permitiam
apenas arrumar internamente a casa. Os reformistas romperam definitivamente com
a Igreja Católica, provocando a quebra efetiva da unidade do pensamento
ocidental cristão.
A reforma representou um dos movimentos históricos
fundamentais que marcaram o início dos tempos modernos, sendo motivada por um
complexo conjunto de causas que ultrapassaram os limites da mera contestação
religiosa à Igreja Católica. Isso porque o homem do século XVI refletia, no
plano da religião, toda uma série de descontentamentos que se referiam às suas
condições de vida material, tanto no plano político como no social ou no
econômico.
AS PRINCIPAIS CAUSAS DA REFORMA
Existe
todo um conjunto de causas religiosas, sócio-econômicas e políticas que ajudam
a entender a Reforma.
CAUSAS RELIGIOSAS
Um
clima de reflexão crítica e de inquietação espiritual espalhou-se entre
diversos cristãos europeus. Com a utilização da imprensa, aumentou o número de
exemplares da Bíblia disponíveis aos estudiosos. A divulgação da Bíblia e de
outras obras religiosas contribuiu para a formação de uma vontade mais pessoal
de entender as verdades divinas, sem a intermediação dos padres. Desse novo
espírito de interiorização e individualização da religião, que levou ao livre
exame das Escrituras, surgiram diferentes interpretações da doutrina cristã.
Nesse sentido, podemos citar, por exemplo, uma corrente religiosa que, buscando
apoio na obra de Santo Agostinho, afirmava que a salvação do homem somente era
alcançada pela fé. Essas idéias opunham-se à posição oficial da Igreja, baseada
em Santo Tomás de Aquino, pela qual a salvação do homem era alcançada pela fé e
pelas boas obras.
Analisando
o comportamento do clero, esses cristãos passaram a condenar energicamente uma
série de abusos e de corrupções que estavam sendo praticados. O alto clero de
Roma estimulava inúmeros negócios envolvendo a religião, como, por exemplo, o
comércio de relíquias sagradas espinhos que coroaram a fronte de Cristo, panos
que embeberam o sangue de seu rosto, objetos pessoais dos Santos etc.). Além do
comércio de relíquias sagradas, a Igreja passou a vender indulgências, isto é,
o perdão dos pecados. Assim, mediante certo pagamento destinado a financiar
obras da Igreja, os fiéis poderiam comprar a sua salvação.
No
plano moral, a situação de inúmeros membros da Igreja também era lastimável,
sendo o objeto de várias críticas. Multiplicavam-se os casos de padres
envolvidos em escândalos amorosos, de monges que viviam bêbados como vagabundos
e de bispos que somente acumulavam riquezas pessoais, vendiam os sacramentos e
pouco se importavam com a religião.
CAUSAS
SÓCIO-ECONÔMICAS
A
concepção teológica da igreja, desenvolvida durante o Período Medieval, estava
adaptada ao sistema feudal, que se baseava na economia fechada e na
auto-suficiência dos feudos, onde o comércio subsistia apenas como atividade
marginal. Por isso, a teologia tradicional católica condenava a obtenção do
lucro excessivo, da usura, nas operações de comércio, defendendo a prática do
preço justo.
Com o
início dos tempos modernos, desenvolveu-se a expansão marítima e comercial, e
dentro desse novo contexto a moral econômica da Igreja começou a entrar em
choque com a atividade da grande burguesia. Essa classe, empenhada em
desenvolver ao máximo as atividades comerciais, sentia-se incomodada com as
concepções tradicionais da Igreja, que taxava de pecado a busca impetuosa do
lucro. Assim, essa burguesia começou a sentir necessidade de uma nova ética
religiosa, mais adequada ao espírito do capitalismo comercial. Essa necessidade
ideológica da burguesia foi satisfeita, em grande parte, com a ética
protestante, que surgiria com a Reforma.
Convém frisar, entretanto, que nem todos os líderes reformistas estavam
dispostos a incentivar as práticas do capitalismo. É o caso, por exemplo, de
Lutero, que condenava severamente o luxo e a usura, propondo para os cristãos
um ideal de vida modesto, em que não existiria a ansiedade pelo lucro e a
vaidade pelas riquezas materiais.
CAUSAS
POLÍTICAS
O
século XVI foi um período de fortalecimento das monarquias nacionais. A Igreja
Católica, com sede em Roma e falando latim, apresentava-se como instituição de
caráter universal, sendo um fator de unidade do mundo cristão. Essas noções,
entretanto, perdiam força, na medida em que os sentimentos nacionais desenvolviam-se
com grande vigor. Cada Estado, com sua monarquia, sua língua, seu povo e suas
tradições, estava mais interessado em autoafirmar-se enquanto nação do que em
fazer parte de uma cristandade obediente à Igreja. Opondo-se ao papado e ao
comando centralizador da Igreja Católica, a Reforma religiosa atendia aos
anseios nacionalistas, permitindo a autonomia de Igrejas nacionais.
A REFORMA DE
MARTINHO LUTERO
Martinho
Lutero (1483-1546) nasceu em Eisleben, na Saxônia, sendo filho de um
empreiteiro de minas que atingiu certa prosperidade econômica. Influenciado
pelo pai, ingressou em 1501 na Universidade de Erfurt, para estudar direito,
mas seu temperamento inclinava-o à vida religiosa, Em 1505, após quase ter
morrido em uma violenta tempestade, ingressou na Ordem dos Monges Agostinianos,
cumprindo promessa feita a Santa Ana.
Estudioso
sério, metódico e aplicado, Lutero conquistou prestígio intelectual,
tornando-se, em 1508, professor da Universidade de Wittenberg. Em 1510, viajou
a Roma, de onde regressou decepcionado com o clima de corrupção que percebera
no alto clero, Nos anos de 1511 a 1513, aprofundou-se nos estudos teológicos, ate que começaram a
amadurecer em seu espirito as idéias para a criação de uma nova doutrina
religiosa. Nas epístolas de São Paulo, encontrou uma frase que lhe paraceu
fundamental: “o justo se salvará pela fé”. Concluiu Lutero que o homem,
corrompido em razão do pecado original, só poderia salvar-se pela fé
incondicional em Deus. Somente a fé, e não as obras praticadas, seria o único
instrumento capaz de justificar os pecados e de conduzir à salvação, graças à
misericórdia divina. Em 1517, eclodiu o incidente que provocaria o rompimento
entre Lutero e a Igreja Católica, girando em torno do episódio conhecido como
venda de indulgências. Tendo como o objetivo arrecadar fundos para financiar a
reconstrução da Basílica de São Pedro, o Papa Leão X permitiu que se concedem
indulgências (perdão dos pecados) a todos os fieis que contribuíssem
financeiramente com a Igreja. Escandalizado com essa salvação comprada a
dinheiro, Lutero afixou na porta da Igreja de Wittenberg um manifesto público (
as 95 teses), em que protestava contra a atitude do Papa e expunha os elementos
de sua doutrina. Iniciava-se, então, uma longa discussão entre Lutero e as
autoridades eclesiáticas, culminando com sua excomunhão pelo Papa, em 1520.
Demonstrando descaso e revolta diante da Igreja, Lutero queimou em praça
pública a bula Papal Exsurge dimine, que o condenava.
A DOUTRINA
LUTERANA
Vejamos,
rapidamente, uma síntese dos principais pontos da doutrina luterana:
.Igreja:
proclamava a criação de Igrejas nacionais autônomas. O trabalho religioso
poderia ser feito por pessoas não obrigadas ao celibato sacerdotal (obrigação
de casar). Lutero aceitava a dependência
da Igreja ao Estado. O idioma das cerimônias religiosas deveria ser aquele de
cada nação e não o latim, que era o idioma oficial das cerimônias católicas.
.Rito
Religioso: a cerimônia religiosa deveria obedecer a ritos mais simples,
reduzindo a pompa existente nos cultos católicos. Santos e imagens foram
abolidos.
.Livro Sagrado:
A Bíblia era o livro sagrado do Luteranismo, representando a única fonte da fé.
Sua leitura e interpretação deveriam se feitas por todos os cristãos. Lutero,
em 1534, traduziu para o alemão um original grego da Bíblia.
.Salvação
Humana: O homem salva-se pela fé em Deu e não pelas obras que pratica.
.Sacramentos:
preservaram-se como sacramento básicos o batismo e a eucaristia.
A EXPANSÃO DO
LUTERANISMO
Paralelamente
aos problemas meramente religiosos, houve uma série de fatores sociais e
econômicos que favoreceram a difusão das idéias de Lutero na Alemanha.
Destacam-se, entre eles, o fato de grande parte das terras alemãs pertencerem à
Igreja Católica, havendo grande interesse da nobreza em apossar-se dessas
terras.
Nessa
época, o que chamamos de Alemanha nada mais era do que um conjunto de
principados e de cidades autônomas, não havendo, portanto, um país unificado,
com autêntica unidade política. A região fazia parte dos domínios do Sacro
Império Romano Germânico, controlado pela Dinastia dos Habsburgs, cujo
imperador ficava na Espanha. O imperador era aliado do Papa e procurava, com
isso, preservar certa unidade e poder sobre os príncipes alemães.
Com
sede de poder e de riqueza, as classes elevadas (nobreza e burguesia)
mostravam-se descontentes em relação à Igreja e ao comando do imperador. Por
outro lado, as classes sociais menos favorecidas (camponeses e artesãos
urbanos) também responsabilizavam a Igreja pela situação de miséria e de
exploração de que eram vítimas. Havia, portanto, um certo consenso entre as
diversas classes sociais contra a Igreja.
Liderados
por Thomas Münzer, os camponeses, a partir de 1524, organizaram uma série de
revoltas contra sacerdotes ricos e nobres, donos de grandes propriedades de
terra. De forma violenta, os camponeses lutavam pela posse de terra e pelo fim
de exploração. As classes dominantes, então, uniram-se para dominar a revolta
camponesa, contando com o apoio de Lutero, que publicou um manifesto cujo
título trazia as seguintes palavras “Contra os bandos camponeses assassinos e
ladrões...”. Confrontos com os poderosos, os camponeses foram esmagados:
morreram mais de cem mil e o líder Thomas Munzer foi decapitado.
Em
troca de seu apoio às classes dominantes, Lutero conseguiu poderosos aliados
entre a nobreza e a alta burguesia, que o auxiliaram a difundir sua doutrina
religiosa pelo norte da Alemanha, pela Suécia, pela Dinamarca e pela Noruega.
Foram esses aliados que, em 1529, protestaram contra a preservação das medidas
tomadas pelo imperador contra Lutero, que impediam cada Estado de adotar sua
própria religião. A partir desse protesto é que se difundiu o nome protestante
para designar os cristãos não católicos.
Não
sendo ouvidos pelo imperador, o grupo dos príncipais protestantes formou, em
1531, um liga político-militar (Liga de Smalkalde) para lutar contra as forças
católicas ligadas ao imperador Carlos V. Somente em 1555 o imperador aceitou a
existência oficial das Igrejas Luteranas, assinando com os protestantes a Paz de Augsburg. Era o reconhecimento
jurídico final da separação religiosa do mundo cristão.
A REFORMA DE
CALVINO
João
Calvino (1509 - 1564) nasceu em Noyon, na França, e desenvolveu nesse país seus
estudos de Teologia e de Direito. Influenciado por Guillaume Farel, aderiu às
idéias protestantes. Quando, em 1534, as autoridades católicas francesas
começaram a perseguir os suspeitos de heresias, Calvino fugiu para a Suiça,
onde o movimento reformista já tinha se iniciado, sob a liderança de Ulrich
Zwingli (1484-1531).
Em
suas pregações, Zwingli dava maior importância do que Lutero à crença na
predestinação dos homens para a salvação, valorizando menos o aspecto da
justificação pela fé. Com seu espírito racionalista, Zwingli conquistou o apoio
da burguesia mercantil da Suíça, que admirava a objetividade de suas ações e o
lado prático de suas idéias. Seu trabalho religioso preparou o caminho para que
ali se desenvolvessem as idéias de João Calvino.
Em
1536, Calvino publicou sua principal obra, a Instituição da Religião Cristã, na
qual afirmava que o ser humano estava predestinado de modo absoluto a merecer o
Céu ou o Inferno. Explicava Calvino que, por culpa de Adão, todos os homens já
nasciam pecadores (pecado original), mas, Deus tinha eleito algumas pessoas
para serem salvas, enquanto outras seriam condenadas à maldição eterna.
Portanto, nada que os homens pudessem fazer em vida poderia alterar-lhes o
destino, já previamente traçado. A fé, existente em algumas pessoas, poderia ser
interpretada como um sinal de que elas pertenciam ao grupo dos eleitos por Deus
à salvação. Tais pessoas, os eleitos, sentiriam dentro do seu coração um
irresistível desejo de combater o mal que
povoa o mundo, simplesmente para a glória de Deus. A
prosperidade econômica de algumas pessoas, sua riqueza material, também passou
a ser interpretada pelos seguidores de Calvino como um sinal da salvação
predestinada.
Em
1538, Calvino foi expulso da Suíça, devido aos seus excessos de rigor e de
autoritarismo. Entretanto, conseguiu retornar em 1541 e consolidou seu poder na
cidade de Genebra, tornando-se senhor absoluto do Governo e da nova Igreja
Calvinista, até o ano de 1561. Durante esse período, Genebra viveu um regime de
caráter teocrático, em que se confundiam princípios religiosos e políticos.
Entre
os órgãos criados pelo Governo calvinista, destacava-se o Consistório,
encarregado da vigilância moral dos cidadãos e da solicitação de castigos ao
Estado. Entre as atitudes condenadas pelo Calvinismo citam-se, por exemplo, o
jogo, o culto a imagens, a dança, o adultério e a heresia, sendo que as penas
impostas aos infratores variavam conforme a gravidade do crime. Muitos foram
condenados à morte, figurando entre eles o médico Miguel de Servet, que foi
queimado vivo por negar o pecado original.
Criou-se,
com base no Calvinismo, um modelo ideal de homem, religioso e trabalhador, par
quem o sucesso econômico e a conquista de riquezas eram um sinal da
predestinação divina ao Paraíso. Essa ideologia foi muito bem aceita pela
burguesia mercantil, na medida em que sua ganância pelo lucro era justificada
pela ética religiosa. Identificando-se com a burguesia, o Calvinismo
espalhou-se por diversas regiões da Europa, como França, Inglaterra, Escócia e
Holanda – países onde se expandia o capitalismo comercial.
A REFORMA
ANGLICANA
Henrique
VIII (1509-1547), rei da Inglaterra, tinha sido, durante certo tempo, um fiel
aliado do Papa, recebendo deste o título de “Defensor da Fé”. Entretanto, uma
série de fatores políticos e econômicos levaram também Henrique VIII a romper
com a Igreja Católica e a fundar uma Igreja nacional na Inglaterra, isso é, a
Igreja Anglicana.
Entre
os principais fatores que provocaram a Reforma Anglicana, podemos destacar os
seguintes:
*
Fortalecimento da monarquia: a Igreja Católica exercia grande influência
política dentro da Inglaterra, pois era dona de grande parte das terras e
monopolizava o comércio de objetos sagrados. Para fortalecer o poder da
monarquia inglesa, Henrique VIII teria que reduzir a influência do Papa dentro
da Inglaterra;
* A posse das
terras da Igreja: a nobreza capitalista inglesa tinha grande interesse
econômico em apossar-se das terras da Igreja. Para que isso acontecesse era
preciso unir-se em torno do rei, a fim de que os poderes da Igreja Católica se
enfraquecessem;
* O pedido de
divórcio do rei Henrique VIII: casado com a princesa espanhola Catarina de
Aragão, Henrique VIII teve com ela uma filha para sucedê-lo no trono.
Entretanto, o rei estava bastante descontente com seu casamento. Primeiro,
devido à origem espanhola de sua esposa, já que a Espanha era inimiga da
Inglaterra. Segundo, porque o rei desejava um herdeiro masculino e pretendia
casar-se com Ana Bolena. Assim, em 1529 pediu ao Papa que anulasse seu
matrimônio com Catarina de Aragão, mas deparou-se com a recusa do Sumo
Pontífice. Apesar disso, Henrique VIII conseguiu que o alto clero inglês e o
Parlamento reconhecessem a validade de suas intenções. Em 1534, o Parlamento
inglês votou um Ato de Supremacia, pelo qual considerava Henrique VIII o chefe
supremo da Igreja Nacional Anglicana. “Os ingleses, por juramento, deviam
submeter-se a essa supremacia, caso contrário seriam excomungados e perseguidos
pela justiça real. Houve pouca resistência, nela incluída a de Thomas Morus,
que foi decapitado. Suprimiu-se o clero regular e seus bens, devolvidos à
coroa, foram vendidos”.
Após
a criação da Igreja Anglicana, surgiram, com os sucessores de Henrique VIII,
uma série de Lutas religiosas internas. Primeiro, tentou-se implantar, no
governo de Eduardo VI (1547-1553), o Calvinismo no país. Depois, no governo de
Maria Tudor (1553-1558), filha de Catarina de Aragão, houve a reação católica.
Somente no governo de Elisabeth I (1558-1603) é que se consolidou a Igreja
Anglicana, que permanece dominante no país até hoje. O calvinismo puritano
conseguiu, entretanto, grande número de adeptos entre a burguesia, entretanto,
grande número de adeptos entre a burguesia manufatureira. Foi dos puritanos que
surgiram os grandes líderes da Revolução inglesa do Século XVII.
A FORMA E O
CONTEÚDO DA REFORMA ANGLICANA
A
Igreja Anglicana procurou desenvolver uma conciliação original entre o rito
tradicional do catolicismo e o dogma de caráter protestante. Em outras
palavras, mantinha-se nas cerimônias a forma católica (conservação da liturgia
católica, da hierarquia eclesiástica etc.) e introduziam-se na doutrina
elementos do conteúdo protestante (salvação pela fé, preservação de apenas dois
sacramentos - batismo e comunhão etc.).
Essa
foi a solução encontrada pela monarquia inglesa para favorecer, no país, a
convivência social dos diferentes grupos religiosos rivais. Assim, de acordo
com as circunstâncias históricas de cada momento, a monarquia inglesa dirigia a
Igreja Anglicana para enfatizar a forma católica ou o conteúdo protestante. Se
quisesse agradar aos protestantes, valorizava o conteúdo dos cultos; se
quisesse agradar aos católicos, valorizava o rito formal das cerimônias.
A REFORMA
CATÓLICA OU CONTRA-REFORMA
Diante
dos movimentos protestantes, a reação inicial e imediata da Igreja Católica foi
a de punir os líderes rebeldes, na esperança de que as idéias dos reformadores
não se propagassem e o mundo cristão recuperasse a unidade perdida. Essa
tática, entretanto, não deu bons resultados, já que o movimento protestante
avançou pela Europa, conquistando crescente número de seguidores. Era forçoso,
assim, reconhecer a ruptura protestante.
Diante
disso, ganhou força dentro do Catolicismo um amplo movimento de moralização do
clero e reorganização das estruturas administrativas da Igreja. Esse movimento
de reformulação da Igreja Católica ficou conhecido como Reforma Católica ou
Contra-Reforma. Seus principais líderes foram os Papas Paulo III (1534-1549,
Paulo IV (1555-1559), Pio V (1566-1572) e Xisto V (1585-1590).
Todo
um conjunto de medidas foi colocado em prática pelos líderes da Contra-Reforma,
tendo em vista deter o avanço do protestantismo. Entre essas medidas,
destacam-se as seguintes:
* Aprovação da
Ordem dos Jesuítas: no ano de 1540, o Papa Paulo III aprovou a criação da Ordem
dos Jesuítas ou Companhia de Jesus, que tinha sido fundada pelo militar
espanhol Inácio de Loyola, em 1534. Inspirando-se na estrutura militar, os
jesuítas consideravam-se os soldados da Igreja, sua tropa de elite, cuja missão
era combater a expansão do protestantismo. Entretanto, o combate deveria ser
travado com as armas do espírito, e para isso Inácio de Loyola escreveu um
livro básico, chamado Os exercícios espirituais, em que se propunha a programar
a conversão do indivíduo ao catolicismo, mediante técnicas de contemplação. A
criação de escolas religiosas foi um dos principais instrumentos da estratégia
dos jesuítas. Outra arma utilizada foi a catequese dos não-cristãos, isto é, os
jesuítas empenharam-se em converter ao catolicismo os povos dos continentes
recém-descobertos. O objetivo era expandir o domínio católico para os demais
continentes;
* Convocação do
Concílio de Trento: no ano de 1545, o Papa Paulo III convocou um Concílio,
cujas primeiras reuniões foram realizadas na cidade de Trento, na Itália. Ao
final de longos anos de trabalho, terminados em 1563, o Concílio apresentou um
conjunto de decisões destinadas a garantir a unidade da fé católica e a
disciplina eclesiástica. Reagindo às idéias protestantes, o Concílio de Trento
reafirmou diversos pontos da doutrina católica, como, por exemplo:
- Salvação
humana: depende da fé e das boas obras humanas. Rejeitava-se, portanto, a
doutrina da predestinação;
- Fonte da fé:
o dogma religioso tem como fonte a Bíblia, cabendo à Igreja dar-lhe a
interpretação correta, e a tradição religiosa, conservada pela Igreja e
transmitida às novas gerações. O Papa reafirmava sua posição de sucessor de
Pedro, a quem Jesus Cristo confiou a construção de sua Igreja;
- A missa e a presença
de Cristo: a Igreja reafirmou que no ato de eucaristia ocorria a presença real
de Jesus no pão e no vinho. Essa presença real de Cristo era rejeitada pelos
protestantes.
O Concílio de Trento determinou, ainda, a elaboração
de um catecismo com os pontos fundamentais da doutrina católica, a criação de
seminários para a formação dos sacerdotes e a manutenção do celibato
sacerdotal;
*
Restabelecimento da Inquisição: no ano de 1231 a Igreja Católica criou os
Tribunais de Inquisição, que, com o tempo, reduziram suas atividades em
diversos países. Entretanto, com o avanço do protestantismo, a Igreja decidiu
reativar, em meados do século XVII o funcionamento da Inquisição, que se
encarregou, por exemplo, de organizar uma lista de livros proibidos aos católicos,
o Index librorum prohibitorum. Uma das primeiras relações de livros proibidos
foi publicada em 1564.
Fonte: Textos da Reforma