Há pelo
menos várias décadas, as igrejas do mundo ocidental não consideram o discipulado
condição para ser cristão. Não se exige nem se espera de um indivíduo que ele
seja um discípulo a fim de se tornar cristão, e é possível continuar sendo
cristão sem nenhum sinal de progresso rumo ao discipulado ou dentro dele. As
igrejas de hoje, especialmente as americanas, não exigem como condição de
membresia - para ingressar ou continuar numa denominação ou congregação local -
que Cristo seja seguido em seu exemplo, espírito e ensinamentos. Seria ótimo
encontrar exceções a tal afirmação, mas essas só serviriam para ressaltar sua
validade geral. No que se refere às instituições cristãs de nosso tempo, o
discipulado é inequivocamente opcional.
Claro que
isso não é segredo. Os melhores livros atuais sobre discipulado declaram
abertamente ou pressupõem que o cristão pode não ser um discípulo - mesmo
depois de freqüentar a igreja a vida inteira. A arte perdida de fazer
discípulos, um livro bastante usado nessa área, apresenta três níveis de vida
cristã: o convertido, o discípulo e o obreiro. De acordo com esse livro, há um
processo apropriado para conduzir as pessoas a cada nível. O evangelismo produz
convertidos, o fortalecimento ou acompanhamento produz discípulos, e a
preparação produz obreiros. Diz-se que os discípulos e obreiros podem renovar o
ciclo por meio do evangelismo, ao passo que somente os obreiros podem fazer
discípulos pelo trabalho de acompanhamento.
O retrato
da "vida da Igreja" apresentado nesse livro é, em sua maior parte,
compatível com a prática cristã americana. Mas será que esse modelo não torna o
discipulado algo inteiramente opcional? Claro que sim, da mesma forma que torna
opcional o discípulo vir a ser um "obreiro".
Assim,
hoje em dia, inúmeros convertidos exercem a liberdade de escolha que lhes é
oferecida pela mensagem que ouvem: escolhem não se tornar - ou, pelo menos, não
escolhem se tornar - discípulos de Jesus Cristo. As igrejas estão repletas de
"discípulos não discipulados", como Jess Moody os chamou. É evidente
que, na realidade, isso não existe. Grande parte dos problemas das igrejas de
hoje pode ser explicada pelo fato de seus membros nunca tomarem a decisão de
seguir a Cristo.
Nessa
situação, não adianta muito insistir em que Cristo deve ser Senhor. Apresentar seu
senhorio como uma opção o coloca na mesma categoria que rodas de liga leve,
pneus especiais e equipamento de som. É possível viver sem esses acessórios. E
- infelizmente! - não se sabe ao certo como seria viver com eles. A obediência
e o ensino visando à obediência não formam uma unidade doutrinária ou prática
com a "salvação" apresentada nas versões recentes do evangelho.
Extraído
do livro: WILLARD, Dallas - A
grande Omissão. Editora Mundo Cristão, 2008.
Fonte da
imagem:
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Restout_les_disciples_d%27Emmaus.jpg
Français
: Les disciples d'Emmaüs ou le repas d'Emmaüs Jean II Restout 1763, Église
Saint-Leu-Saint-Gilles (Paris).
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