“Amados, não
acrediteis em qualquer espírito, mas avaliai se os espíritos vêm de Deus,
porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo.” 1Jo 4:1
[AS21]
Muitos
têm interpretado esse versículo ao pé da letra,principalmente
os pentecostais. Sempre fiquei na dúvida quanto a essa interpretação e
acreditava que a explicação poderia ser menos sobrenatural. Deixe-me
compartilhar minha leitura e vejamos até onde você pode concordar comigo.
João escreveu seu evangelho e as cartas com grande preocupação, pois havia uma grande ameaça à fé que rondava a igreja em seus dias. Corriam pela comunidade cristã membros de uma certa religião que propugnava a teoria de que a matéria era toda má, e o espírito puro, incorruptível, não poderia habitar a matéria. Ensinava-se que Jesus não poderia ter vindo em carne, porque a carne é corruptível e ele não poderia ter-se feito carne sem comprometer sua divindade. O gnosticismo e o docetismo foram as principais fontes de heresias combatidas pelos apóstolos e os primeiros pais da igreja cristã.
João escreveu seu evangelho e as cartas com grande preocupação, pois havia uma grande ameaça à fé que rondava a igreja em seus dias. Corriam pela comunidade cristã membros de uma certa religião que propugnava a teoria de que a matéria era toda má, e o espírito puro, incorruptível, não poderia habitar a matéria. Ensinava-se que Jesus não poderia ter vindo em carne, porque a carne é corruptível e ele não poderia ter-se feito carne sem comprometer sua divindade. O gnosticismo e o docetismo foram as principais fontes de heresias combatidas pelos apóstolos e os primeiros pais da igreja cristã.
Observe
que João escreve seu evangelho com muitas declarações e relatos de eventos que
marcam a natureza 100% divina e 100% humana de Cristo. Em sua carta ele
novamente trabalha a mesma temática, alertando a Igreja do perigo de falsas
doutrinas que negavam as duas naturezas de Cristo. Ele chama essas pessoas que
propugnavam tais ensinamentos de falsos profetas e anticristos – 1Jo 4:1 e 1Jo
2:18.
É
interessante observar que ele emprega um terno no plural que estamos
acostumados a usar apenas no singular: anticristos. A palavra “anticristo” na
verdade significa “inimigo de Cristo”, mas acabamos por personificar a figura
do “anticristo” numa única entidade, como se a palavra figurasse como nome
próprio. Na verdade, todo aquele que vai além da doutrina de Cristo e deturpa o
testemunho de Cristo é um “inimigo de Cristo” - um anticristo.
A
palavra “espírito” em grego pode significar “vento” e “inspiração”. Associando a acepção
da palavra “espírito” como “inspiração” no contexto de alerta contra um grupo
herético, a interpretação do texto perde esse caráter “místico-espiritual”.
Refiro-me à questão como “místico-espiritual” porque já vi crentes defendendo a
tática de interrogar endemoninhados e falantes de outras línguas para avaliar
se o “espírito” era um demônio ou o Espírito Santo. A coisa parte quase para a
blasfêmia...
Então,
vamos considerar que João
escrevia para uma comunidade cristã que estava sendo atacada pela heresia de
que Jesus não era Deus encarnado. Ele abre sua carta defendendo a divindade de
Cristo encarnada: Aquele que vimos com nossos olhos, e nossos mãos apalparam: o
Logos da vida.
Não
seria coerente assumir que
João estava recomendando à igreja testar aqueles falsos profetas quanto à
inspiração que eles alegavam ter sobre a natureza de Cristo? Se eles dizem ser
inspirados por Deus, mas negam a natureza verdadeira de Cristo, essa inspiração
não vem de Deus! Aqueles que ensinam isso são, na verdade, inimigos de Cristo –
os anticristos ou falso profetas.
Em
2Ts 2:2 encontramos a mesma palavra “espírito” empregada por Paulo que é
traduzida literalmente como “espírito” ou por “profecia” em algumas versões
bíblicas. Profeta era aquele que entregava a mensagem de Deus. O profeta trazia
algum ensinamento ou mensagem da parte de Deus para o povo. Pensando nisso,
podemos dizer que se um falso profeta abordasse um crente na Igreja
destinatária da carta de João, seria fácil testar este profeta a partir de sua
profecia (ensinamento ou mensagem da parte de Deus). Um profeta de Deus jamais
entregaria uma “profecia” (espírito no original grego, como encontrado em 2Ts
2:2) negando que Jesus veio em carne.
Veja se o texto não
ganha muito mais coerência substituindo a palavra "espírito" por
"profecia":
"Amados, não acrediteis em qualquer profecia, mas avaliai se as profeciasvêm de Deus, porque
muitos falsos profetas têm saído pelo mundo." 1Jo 4:1
Autor: André R. Fonseca
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Twitter:
@andreRfonseca
Fonte da imagem: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:LongShadows2.jpg
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